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As Leis da Evolução Técnica



Adapte o que é útil, descarte o inútil, adicione algo especificamente seu” (Bruce Lee)

O que faz uma pessoa ter uma técnica melhor que a outra? Por que algumas pessoas aprendem em 2 semanas, outras em 2 anos, outras nunca aprendem a técnica ideal?


Há algumas leis fisiológicas que devem ser respeitadas quando falamos em evolução técnica.

Quando vamos executar uma ação, nosso córtex motor envia sinais para centros nervosos que correspondem aos músculos que serão acionados durante esta ação.


Pessoas com técnica ruim não conseguem acionar apenas estes centros nervosos, elas acabam acionando também centros nervosos vizinhos, de músculos que não irão ajudar na tarefa. Por isso iniciantes tendem a fazer muito esforço e gastar muita energia mental – há grande perda de energia gerando contração desnecessária e involuntária em músculos antagonistas. Os movimentos não fluem, saem “amarrados”, com muito “pensamento” e hesitação.


Em um segundo momento, após sessões de treino organizadas de forma sistemática e com as devidas correções, o antes iniciante agora consegue direcionar impulsos nervosos apenas os centros motores responsáveis pela execução do movimento, sem perda de energia desnecessária. O controle motor da ação (fuso muscular, OTG, aparelho vestibular) funciona de forma eficiente e não há “ruídos” técnicos. O cerebelo, responsável pelo feedback do movimento, avalia se há muita diferença entre o sinal de execução enviado aos músculos e o sinal dos proprioceptores de controle.


Quando a técnica está correta, porém não há consistência/fixação (algumas vezes um erro reaparece), chamamos de perícia motora. É uma evolução técnica, porém fatores externos ainda podem atrapalhar a execução.


Em um outro estágio, mais avançado, o atleta entra numa zona de “automatismo”. Ele executa a técnica correta, sem dispêndio de muita energia mental, sem contrações involuntárias, porém desta vez com alta capacidade fixação, sem pensar no que faz, apenas executando. Toda periodização busca este nível técnico, que é a habilidade motora.


“A habilidade é função de um ato inconsciente automático. O controle consciente de todos os fatores é impossível, pois uma entrada só é possível num espaço de tempo igual ao de um raio.” (Jigoro Kano)

Em qualquer esporte, pensar durante uma execução não será benéfico. Mas então como se corrige uma técnica que está errada? Se o atleta sem pensar faz besteira, algo deve ser feito, mas o que?


Há diferentes métodos para o trabalho técnico. O método verbal (os comandos verbais, por exemplo: “mantém o peito alto”), o método visual (análise de vídeos, uso de bonecos), método da rotina integral (execução do movimento completo), método da rotina fragmentada (fracionamento do movimento em várias partes), “game method”, método competitivo e por aí vai. Não há um método superior ao outro, afinal atletas iniciantes podem se dar muito bem com fragmentação do movimento, enquanto avançados podem piorar com este método. A questão é qual ferramenta o treinador irá priorizar. Deve haver um porquê, uma estratégia bem fundamentada em leis fisiológicas, pedagógicas, psicológicas.


Independente do método adotado, há um fim comum: formar no atleta um modelo imaginário completo do movimento, tanto no sentido visual, como mental e também motor.


“A maneira de treinar depende de uma ação consciente, mas o objetivo do treinamento é conseguir o domínio da técnica, o que é inconsciente.” (Jigoro Kano)

É impossível chegar na maestria técnica sem muito esforço e tomada de decisões conscientes sobre o movimento treinado. O combustível para essa consciência do movimento é a atenção. É como se a atenção fosse a moeda de troca aceita neste mercado. Quem tem mais atenção no banco, tem mais poder de compra.


O bom treinador vai descobrir quais métodos geram a maior atenção do atleta em pontos realmente importantes da técnica, que devem ser bem escolhidos afinal não conseguimos prestar muita atenção em duas ou mais coisas ao mesmo tempo. Uma coisa de cada vez, sem verborragia. Como Bruce Lee dissera, tire o que é inútil da rotina, muita “poluição” atrapalha a execução pura.


Após a formação consciente deste modelo imaginário e a adaptação fisiológica de concentração de sinais apenas nos centros motores necessários conduz a uma técnica ideal.


Não evoluir tecnicamente é, basicamente, não respeitar esses processos que são leis da preparação esportiva. Os atletas que evoluem mais rápido são os que possuem maior capacidade de adaptação motora (isto depende muito de suas experiências prévias e também da sua genética), maior capacidade de atenção e motivação para tomar consciência do modelo técnico ideal e também trabalham com treinadores que escolhem os melhores métodos adaptados ao seu contexto.



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