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Análise: "Onze Anéis - A alma do sucesso" do treinador Phil Jackson


Phil Jackson baseia o seu trabalho em um conceito exposto no "Tribal Leadership", que divide as tribos em cinco etapas diferentes, de acordo com seu entrosamento e poder enquanto grupo.


A etapa 1, típica de gangues de rua, tem um sentimento de “a vida é uma merda”.

A etapa 2 representa pessoas apáticas, que representam a ideia de “minha vida é uma merda”.

A etapa 3 é composta por guerreiros solitários. Todos buscam a vitória, porém são autorreferentes. “Eu sou o máximo” é o lema.

A etapa 4 é o orgulho tribal: “Nós somos o máximo”.

A etapa 5 transcende: “A vida é um máximo”.


Em seu histórico como atleta, ele fez parte do vitorioso Knicks dos anos 70, que foi bicampeão através de um basquete norteado pela coletividade em detrimento do individualismo.

Ao cruzar sua experiência como atleta e suas leituras como treinador, formou um ideal de equipe que busca na coletividade alcançar essa etapa máxima de integração, a etapa 5 – a qual ele cita o Chicago Bulls, especificamente de 1996 a 1998, como melhor referência - era a equipe que transcendia o jogo, como podemos ver no documentário "Arremesso final".


Ele começou como staff do Chicago, fazia parte da comissão técnica. Aos poucos, foi ganhando confiança da equipe e começou a dar suas ideias: o uso do triângulo ofensivo era uma delas, que de início foi desacreditada. Houve resistência à triangulação, afinal isso diminuiria o volume de jogo do Jordan. Mas à medida que o Phil ganhava espaço e o Bulls não chegava as finais, seu nome como passou a ser cogitado como futuro treinador.

Após a demissão do técnico após uma temporada sem título em 1989, Phil assumiu. No primeiro ano, já aplicou suas ideias e quase derrotou o o arquirrival, o Detroit Pistons, ficando a uma única etapa longe da final da NBA. No segundo ano, foi campeão. E aí conquistou o tricampeonato de 1991-1993. E depois mais um tricampeonato, de 1996-1998 com a equipe de etapa 5. Nos anos 1994 e 1995 não houve nenhum título. Foram os anos nos quais o Jordan foi para o baseball por 18 meses e perdeu a forma física específica do basquete – ele fez isso para homenagear seu falecido pai, que fora assassinado (o esporte favorito do pai era baseball).


Seu estilo relaxado como treinador, de poucas palavras, dando ampla liberdade aos jogadores no ataque, chamou a atenção de inúmeras equipes, como o Los Angeles Lakers. Assim que chegou no Lakers, já conquistou um título logo no primeiro ano. E assim veio mais um tricampeonato: 2000-2002. Depois, houve uma briga entre Shaq e Kobe, o que tornou o Lakers uma bagunça após a cisão e saída polêmica de Shaq. Phil ficou alguns anos sem títulos, até chegar de novo a três finais com o Lakers comandado por Kobe, que liderava a equipe sendo o grande protagonista. Desta vez ele ganhou 2 finais e perdeu uma.


O livro mostra sua visão budista associada ao treinamento, é uma postura bem mais desapegada que aquela do arquétipo tradicional de treinadores que gritam muito (há também treinadores assim de grande sucesso - há vários caminhos para a vitória). Ele fala sobre meditação, dá lições budistas, sempre foca na questão espiritual da equipe. Como teve formação religiosa rígida e engessada, acredito que isso despertou seu interesse para algo mais flexível quando se tornou adulto, ele acabou se tornando um “rebelde”, havia algo de hippie nele no início da carreira – o que até comprometeu a assinatura de um contrato: ele chegou com roupas extremamente relaxadas, como se tivesse saído de Woodstock, e teve seu primeiro contrato com a NBA postergado.


O livro foca muito mais na visão espiritualista que ele queria passar do que na visão técnica e tática do jogo – o que não me agradou muito, achei cansativo em alguns momentos. Mas ainda assim é um ótimo livro para treinadores refletirem em algumas questões de gestão de grupos bem heterogêneos como o Bulls: Jordan, Pippen e Rodman possuíam personalidades completamente diferentes e geravam uma química única na equipe.


Óbvio que uma comparação entre Jordan e Kobe era necessária e isso foi feito no livro, por três páginas seguidas e mais alguns relatos em páginas avulsas. De modo resumido: Jordan era um líder mais natural, mais sociável, mais forte fisicamente. Kobe tinha uma capacidade de se infiltrar em pequenos espaços, tinha um arremesso de longe superior, um controle de bola diferenciado. Ambos eram muito competitivos – só que Jordan era mais fora das quadras. E cada um tinha um estilo de jogo que refletia sua personalidade. Kobe era obsessivo com a vitória e ele forçava o jogo e criação de arremessos até conseguir se impor em quadra e dominar o adversário, criando pressão no ataque e defesa. Já Jordan, que desfrutava de charutos caros, golfe e sempre se vestia com elegância, tinha um basquete que unia isso tudo: era o melhor em quadra e também o que tinha o jogo mais bonito, com melhor estética para o público, com movimentos elegantes no ar.


Por fim: Phil Jackson reforça que a mão do Jordan era um talento genético e isso foi definitivo na sua dominância. Ele simplesmente pegava a bola como se fosse handebol, e isso muda drasticamente o arsenal de jogadas, aumenta seu acervo de opções, permite que leve faltas duras sem perder o controle da bola, etc.


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